quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

LAGOA NOVA: DESATRE AMBIENTAL ASSUSTA POPULAÇÃO E PROVOCA MAL ESTAR NA CIDADE.

Milhares de peixes apodrecem às margens da lagoa que deu origem à cidade
Peixes mortos apodrecem sob mira de dezenas de urubus. Foto: Naldo SantosNos últimos dias, os habitantes da zona urbana do município de Lagoa Nova tem sentido no ar uma novidade nada agradável. Às margens da lagoa que deu origem à cidade, milhares de peixes mortos estão apodrecendo e outros tantos agonizam tentando sobreviver. O cenário é catastrófico e impressiona pelas proporções.
Peixes mortos apodrecem sob mira de dezenas de urubus. Foto: Naldo Santos
A poluição e o abandono da lagoa é um risco eminente à saúde pública. Além do mau cheiro, os peixes em decomposição podem ocasionar a transmissão de doenças. Mesmo assim presenciamos crianças brincando nas margens da lagoa em companhia de dezenas de urubus que se juntaram para se alimentar das carnes podres.
De acordo com o biólogo lagoanovense João da Mata Bezerra, o fenômeno é ocasionado pela alta salinidade da água e pela escassez de oxigênio devido à elevada evaporação por causa da seca prolongada que assola o nordeste brasileiro. De acordo com uma análise feita anos atrás pelo Idema e pela Secretaria do Estado de Recursos Hídricos, a água da lagoa é super salina e, portanto, imprópria para o consumo humano.
facebookA salinidade mede a quantidade de sais dissolvidos nas águas que é maior no verão e menor no inverno. A evaporação pode aumentá-la enquanto que as chuvas costumam diminuir esse percentual.
“Algo parecido tinha sido visto apenas nos anos oitenta quando muitos peixes foram dizimados”, conta o biólogo que conhece bem o lugar e o frequenta desde criança. Como há dias a chuva não chega na Serra de Santana o nível da lagoa diminuiu consideravelmente e por consequência a quantidade de oxigênio também.
Repercussão nas redes socias contribuiu para que prefeitura apresentasse providências
As imagens do desastre ganharam repercussão nas redes sociais e rapidamente dezenas de lagoanovenses expressaram sua tristeza e cobraram providências. O vendedor Naldo Santos foi um dos primeiros a postar fotos da catástrofe no Facebook. Ele fez um apelo pedindo ajuda e que as pessoas compartilhassem as imagens. As cenas são tão anormais que chegou-se a cogitar que fossem montagem. Entretanto, a equipe do Lagoa iNova esteve no local e constatou o desastre ambiental.
Conversamos com o secretário municipal de Meio Ambiente José Luiz Neto que afirmou está organizando um mutirão juntamente com a secretaria de Obras para remover os animais mortos e enterrá-los em um local adequado, que ainda não havia sido definido até o final da tarde desta terça-feira (5).
De acordo com especialistas, diante do acontecido, a medida mais adequada é remover os peixes mortos do local e enterrá-los em uma cova profunda para evitar a proliferação de insetos e doenças.
O secretário disse também que uma amostra da água da lagoa será enviada para análise a fim de apurar se as mortes foram causadas pela falta de oxigênio ou por poluentes e não deu mais detalhes do que será feito posteriormente.
Um problema antigo que permanece sem solução
 O desastre traz um questionamento: como tantos peixes podem sobreviver nessas águas poluídas? João da Mata explica que a tilápia, peixe encontrado na lagoa, tem uma função muito curiosa e importante. “Essa espécie tem a capacidade ajudar a limpar ambientes poluídos e recuperar ecossistemas como esses”, comentou.
A questão do abandono e da degradação da lagoa não é de hoje. Há anos a água está imprópria para o consumo humano, mas a depredação do patrimônio culminou mesmo com a construção das piscinas de estabilização que recebem o esgoto de toda cidade e depois de um breve e ultrapassado tratamento é jogado na lagoa.
“Na verdade, ela só passou a ser poluída mesmo a partir do momento da construção do sistema de esgotamento sanitário da cidade no final dos anos noventa. Um projeto totalmente errado que potencializou o processo de agressão ao meio ambiente com o despejo diário de dejetos no leito da lagoa”, critica o biólogo João da Mata.
“Conheço a lagoa desde criança, no final dos anos 60 e anos 70, pescava e tomava banho por lá quase todos os dias, principalmente no sangradouro que corta parte da propriedade de meu pai lá na baixa como chamávamos”, conta o lagoanovense.
Inúmeras promessas de recuperá-la já foram feitas, mas nada de concreto foi executado. Não se tem conhecimento sequer de nenhum estudo aprofundado sobre a lagoa.
O prefeito João Maria Assunção disse em entrevista ao Lagoa iNova durante a campanha eleitoral que a revitalização da lagoa faz parte de seus planos. “Temos como conseguir recursos com a iniciativa privada. Com a implantação dos parques eólicos, o município vai receber uma indenização pelo impacto ambiental causado e nós vamos exigir a revitalização da nossa lagoa”, garantiu.
“Com a ajuda de um ambientalista vamos ver o que pode ser feito. De repente, uma drenagem na lagoa e a melhoria dos canais que levam água até lá, porque não adianta revitalizar sem ter esse cuidado. Com relação à lagoa de estabilização, a gente vai fazer um convênio para retirá-la dali e o novo local depende de uma licença do Idema. Aquilo ali tudo foi feito de forma irregular”, alegou.
O gestor municipal pretende despoluir as águas e fazer calçadões no entorno da lagoa. Ele assegurou que trabalhará a conscientização dos proprietários das terras particulares localizadas naquela região.
A vice-prefeita Vitória Mendes, cuja família possui terras ao redor da lagoa, também se mostra engajada com a causa. Ela é uma das organizadoras de um dos poucos fragmentos que retratam a origem do município, um livreto com as memórias de seu Joaquim Coutinho – um dos primeiros habitantes de Lagoa Nova.

A solução requer comprometimento do poder público e da população
A catástrofe ambiental teve suas proporções aumentadas devido ao descompasso gerado pelo despejo do esgoto e pelo desmatamento contínuo das margens da lagoa. Para o biólogo João da Mata, as medidas a serem tomadas para resolverem de vez a problemática merece atenção especial do poder público e colaboração de todos os lagoanovenses.
É necessário implantar o Saneamento Ambiental no município, o que significa drenar as águas pluviais de forma que toda essa água volte ao leito da lagoa. Em seguida, deve-se fazer o esgotamento sanitário da forma correta e o abastecimento d’água de todas as residências. É preciso ainda reflorestar urgentemente as margens da lagoa, juntamente com seus riachos e o sangradouro com essências nativas . O ideal é um raio de 30 metros desde a margem.
“Outro quesito essencial é tratar o lixo de forma correta, ou seja, elaborar o Plano Municipal Integrado de Resíduos Sólidos, o Plano Municipal Integrado de Saneamento Ambiental e o Plano Diretor do Município”, explica João da Mata.
Somente com a elaboração e o encaminhamento desses planos aos ministérios do Meio Ambiente e das Cidades é que o município poderá viabilizar projetos e adquirir recursos do governo federal para fomentar essas questões.
Como tudo começou…
Lagoa de Lagoa Nova
O problema de degradação da lagoa começou com o calçamento da cidade. As obras feitas sem planejamento desviaram o principal riacho que abastecia a lagoa e passou a se espalhar pelas ruas ocasionando outros transtornos.
A partir disso, iniciou-se um processo de diminuição do leito da lagoa que foi agravado por sucessivas estiagens nos anos oitenta que a deixaram em estado critico. Nesse momento surgiram os primeiros movimentos para ajudar a lagoa, encabeçados por João da Mata Bezerra e pelo grupo do Teatro Baraúna.
Ouça o poema ‘Para que a Lagoa viva.
Em abril de 2012, em uma de nossas visitas à lagoa, constatamos que esse patrimônio natural continua sendo depredado pela própria comunidade. Encontramos lixo, carcaças de animais (que provavelmente foram jogadas lá) e muitos peixes mortos – principalmente próximo ao emissário que desemboca na lagoa vindo das piscinas de estabilização.
Atualmente, o tratamento dado ao esgoto da cidade é feito com um método ultrapassado. Teoricamente, os dejetos são encaminhados às piscinas onde, através de um processo de oxigenação, são retiradas as impurezas mais grosseiras; depois, a matéria orgânica é removida para que ocorra a desinfecção da água; por fim, os efluentes (com um elevado índice de purificação) são lançados na lagoa.
O biólogo João da Mata explica que hoje em dia existem tecnologias que tratariam o esgoto de uma cidade do porte de Lagoa Nova sem grandes problemas. “Bastaria que se contratassem empresas sérias e que conhecem essas tecnologias que não são mais caras que esses sistemas decadentes implantados pela Caern nos municípios pobres do interior, coisa de terceiro mundo mesmo”, criticou.
Fonte: . http://lagoainova.wordpress.com